ENSAIO COM TRÊS NÍVEIS DE ADUBAÇÃO PARA A AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DE NITROGÊNIO FÓSFORO E POTÁSSIO NA CANA-DE-AÇÚCAR, EM SOLOS DE CERRADO RECÉM DESBRAVADO (*).

Resumo:

            Em solo com fertilidade muito baixa, onde os teor de P no solo foi determinado em 5 ppm (extrator H2SO4, 0,5N), foi plantado um experimento com delineamento fatorial (33), cuja finalidade era avaliar a interferência de três níveis dos elementos NPK sobre o desenvolvimento da cana-de-açúcar.

            A condução do experimento incluiu o acompanhamento das condições nutricionais da planta, através da análise foliar e o comportamento do fósforo através de análises de solos, na zona radicular.

            A produtividade foi intensamente influenciada pelas doses de fósforo, enquanto o nitrogênio e o potássio apresentaram efeitos sutis e pontuais.

Relatório com resultados da colheita da colheita da cana planta (10 corte)

            O ensaio foi instalado em um solo Podzólico Vermelho Amarelo, variação Laras (PVLs), na Fazenda Paineiras (Usina Santa Terezinha, empresa coligada à Usina São João de Araras), em local originalmente sob vegetação de cerrado. A análise de solo (quadro 1), demonstrava níveis extremamente baixos de fósforo segundo ZAMBELLO JR. et alii (01), RODELLA et alii (02), BITTENCOURT et alii (03).

Quadro 1 - Resultados observados na análise química do solo no local onde foi instalado o experimento

Características químicas

Teores

Teores em ppm

pH

5,73

 

Carbono %

0,68

 

Fósforo (e mg PO4-3/ 100ml de solo)*

0,05

5

Fósforo (e mg PO4-3/ 100ml de solo)**

0,02

2

Potássio (e mg K+/ 100ml de solo)*

0,06

24

Potássio (e mg K+/ 100ml de solo)**

0,06

24

Cálcio (e mg Ca++/ 100ml de solo)

1,14

228

Magnésio (e mg Mg++/ 100ml de solo)

0,99

119

Hidrogênio (e mg H+/ 100ml de solo)

2,37

 

Alumínio (e mg Al+3/ 100ml de solo)

0,13

 

* Extraído com H2SO4 0,5N; ** Extraído com H2SO4 0,05N

            Utilizou-se para a implantação do ensaio o delineamento estatístico fatorial com 3 níveis de NPK (33), totalizando 27 parcelas ou unidades experimentais. Os tratamentos corresponderam às doses de nitrogênio (0, 30 e 60 kg de N/ha), fósforo (0, 150 e 300Kg de P2O5/ha) e potássio (0, 100, 200 kg de K2O/ha). Após a colheita do primeiro corte o experimento recebeu um outro delineamento estatístico para ser aproveitado em estudo com as soqueiras subseqüentes.

            As unidades experimentais do ensaio constaram de sete linhas, com dez (10) metros de comprimento e um metro e quarenta (1,40) de espaçamento entre as linha de cana, tendo como bordadura as linhas laterais. A sua instalação foi realizada em abril de 1982 e a colheita da cana planta (10 corte) foi efetuada no mês de junho de 1983. Para fornecer os elementos dos nutrientes testados no experimento foram empregados uréia, superfosfato triplo e cloreto de potássio. Todo o nitrogênio e fósforo foi aplicado por ocasião do plantio. O potássio foi parcelado, tendo sido uma parte aplicada por ocasião do plantio 50 e 150 quilos de K2O/ha, para os níveis K1 e K2 respectivamente e a parte restante (50 kg/ha) foi aplicada através de cobertura aérea em 14/09/1982.

            Para a determinação das produtividades foram pesadas as cinco linhas centrais de cada unidade experimental e para as determinações tecnológicas (especificamente a pol da cana) foram coletados três colmos seguidos em cada uma das linhas úteis, totalizando quinze (15) colmos por amostra de cada uma das parcelas.    

Comportamento dos elementos no solo e na planta

            Todas as parcelas foram acompanhadas com análises do solo e do tecido da planta. Essas análises foram realizadas em duas épocas. As análises de solos foram coletadas na linha de cana, uma vez que o objetivo era avaliar a interferência do teor de fósforo sobre o comportamento da cana. Elas foram realizadas em setembro e novembro de 1982, enquanto que as determinações dos teores nas folhas foram realizadas em setembro de 1982 e março de 1983. Esses dados (quadro 2) foram resumidos em torno dos três níveis de fósforo, uma vez que os valores de nitrogênio e potássio não apresentaram respostas independentes dos níveis de fósforo (ver figuras 1 e 2) para os seus diferentes níveis de fornecimento para a cultura.

Quadro 2 - Teores dos principais elementos nutricionais determinados no solo e na planta em duas épocas

P aplicado

Ao solo

Teor na folha (+3) em 22/09/1982 (% M.S.)

Teor no solo em 16/09/1982 (ppm) *

N

P

K

Ca

Mg

P

K

Ca++

Mg++

0

1,88

0,09

1,22

0,15

0,11

4

96

154

78

150

1,95

0,13

1,38

0,17

0,17

48

68

170

73

300

2,03

0,17

1,26

0,19

0,19

105

72

186

73

P aplicado

Ao solo

Teor na folha (+3) em 25/03/1983 (% M.S.)

Teor no solo em 16/11/1982 (ppm) *

N

P

K

Ca

Mg

P

K

Ca++

Mg++

0

1,98

0,14

0,90

-

-

6

48

208

64

150

1,79

0,15

0,96

-

-

52

44

230

59

300

1,81

0,16

0,94

-

-

116

44

252

59

(*) as amostras de solo foram coletadas na linha de cana, uma vez que o foco era a atuação do fósforo sobre o desenvolvimento da planta

            Resumidamente pode-se observar através da análise foliar que aos cinco meses o conteúdo de P na planta mostra uma estreita relação com o fósforo determinado nos solo na zona radicular. Porém aos onze meses essa amplitude se torna apenas sutil. Esse fato evidencia que a diagnose foliar pode ser uma ferramenta muito interessante para o acompanhamento do estado nutricional da planta, mas é preciso estar atento para a época de avaliação, para estabelecer-se um relacionamento adequado com a produtividade. Efetivamente, a interferência mais significativa está nos teores apresentados pelo solo nos diferentes tratamentos com fósforo. Neste caso a relação fica mais clara ao associar-se os teores de P determinados no solo, na zona radicular, com as respectivas respostas de produtividade.

            A produtividade foi intensamente influenciada pela presença do fósforo (quadro 3). Quando o referido nutriente foi disponibilizado em nível zero (0kg/ha P2O5) para a cana, as crescentes doses de nitrogênio e potássio não foram suficientes para elevarem a produtividade do canavial. Nesse nível a produtividade é um a reta com valores de produtividade extremamente próximos (quadro 3). Entretanto, ainda que não se tenha repetição, em razão de ter sido utilizado um delineamento fatorial, o fato de o experimento ter sido implantado em solo de baixa fertilidade e de ser a primeira vez que recebia o plantio da cultura de cana, as doses de nitrogênio apresentaram uma ligeira tendência de aumento de produtividade dentro de cada um dos níveis de fósforo (150 e 300 kg de P2O5/ha). Por outro lado as diferentes quantidades de potássio ensaiadas no experimento apresentaram apenas uma pequena tendência de melhoria da produtividade de cana, quando na presença do maior nível de fornecimento de fósforo (300 kg de P2O5/ha) e na maior dosagem de nitrogênio - situação não econômica para o a utilização de P - como pode ser observado no quadro 3.

Quadro 3 - Produtividade (t de cana/ha) avaliadas nas diferentes combinações de nutrientes na adubação da cana-de-açúcar em estágio de cana planta.

 

Níveis

Interações

Interações

Interações

N0xK0

N0xK1

N0xK2

N1xK0

N1xK1

N1xK2

N2xK0

N2xK1

N2xK2

P0 ( 0kg/ha)

60

63

61

67

62

58

56

60

61

P1 (150kg/ha)

110

124

114

128

128

124

138

141

140

P2 (300kg/ha)

122

119

128

133

128

137

125

136

143

            A atuação do fósforo pode ser avaliada através da figura 2, onde estão dispostos os dados de produtividade e uma curva de tendência para o efeito do referido elemento sobre o desenvolvimento da cana. Nota-se que a melhor resposta para a dosagem foi estimada para dosagens entre 200 e 220 kg de P2O5/ha (a experimentação institucional define essas quantidades extremas de P2O5 em kg/ha por algo entre 150 e 190). Em terrenos com solos com características químicas similares a esse onde foi implantado o experimento, essa demanda tem se mostrado efetiva e as respostas da cana são efetivas para o aumento da dosagem de fósforo por ocasião do plantio. Por outro lado, quando o local já vem sendo cultivado com a cultura da cana há mais tempo, a experiência mostra que a cana não apresenta o mesmo nível de resposta para doses superiores às usualmente utilizadas, mesmo quando o teor do solo esteja próximo ao do limite mínimo ( algo como 30 ppm para solo dessa região do Estado de São Paulo, conforme indicações publicações disponíveis {Zambello(1981a)}; {Manhães(1981a)}e {Rodella(1983a)}.

            A ausência de fósforo reduziu drasticamente a produtividade, confirmando a importância do elemento na nutrição da planta. A sua falta nos primeiros meses de crescimento da planta pode acarretar reduções significativas na produtividade do canavial. Esse fato foi evidenciado pelas análises de tecido e indicaram essa tendência.

            Pode-se afirmar que os três parâmetros culturais que exercem maior pressão sobre a produtividade de uma lavoura de cana-de-açúcar são, em ordem crescente de intensidade: o número de perfilhos na linha de cana, o comprimento do internódio (altura da cana) e o diâmetro do colmo. A falta de fósforo interfere na divisão e crescimento das células e consequentemente reduz a capacidade da planta de emitir de perfilhos, tornando o canavial mais ralo. Da mesma forma e pelo mesmo motivo, a sua restrição provoca a redução do comprimento ao provocar a redução da taxa de crescimento do internódio e deixa a cana mais fina ao provocar a diminuição do diâmetro do colmo. Sem densidade na população de colmos e com o comprimento e grossura reduzidos a produtividade seguramente será comprometida.

            O fato de a produtividade ter sido influenciada intensamente pela presença do fósforo e ter sofrido pouca e localizada interferência do nitrogênio e do potássio, possibilitará a transformação do delineamento do experimento para blocos ao acaso e permitir o estudo específico do comportamento do fósforo sobre o desenvolvimento das soqueiras, com avaliações de seu efeito residual e estudos sobre o reflexo de adubações complementares em possíveis ganhos de produtividade em decorrência de sua utilização (esse estudo foi realizado e encontra-se em {Medeiros(1988a)}.

            Os dados observados no experimento são similares àqueles observados e relatados em experiências publicadas por técnicos de entidades oficiais de pesquisa e experimentação. Essa experiência é de muita utilidade para a tomada de decisão para o uso dos referidos elementos em lavouras comerciais, especialmente quando da implantação de novas lavouras em áreas anteriormente pouco cultivadas e com baixo nível de fertilidade. Eventualmente nesses locais poderão acontecer alterações nas formulações aplicadas, utilizando-se uma quantidade um pouco maior de fósforo do que aquela usualmente utilizada na reforma dos canaviais já existentes ou na fundação de novas lavouras de cana em solos com melhores níveis de fertilidade.

            Para a ilustração dos dados que possibilitam essa tomada de decisão são apresentados alguns gráficos que ilustram essas observações.

Figura 1- Ação das doses de nitrogênio e potássio sobre a produtividade de cana e respectivas interações com as doses de P2O5 aplicadas ao solo.

Figura 2 - Curva de tendência para a atuação das doses de fósforo considerando todos tratamentos aplicados no ensaio.

(*) Relatório interno elaborado por Luiz Carlos Miller, Gerente do Departamento Técnico da Cia Industrial e Agrícola São João / Araras, agosto de 1983.

1.      -          ZAMBELLO JR, E.; OLANDO FILHO, J. RODELLA, A.A. Recomendação de adubação fosfatada para cana-de-açúcar através da análise química do solo - Brasil Açucareiro (3): 38 - 43 - Rio de Janeiro - 1981.

2.      - RODELLA, A.A.; ZAMBELLO JÚNIOR, E; ORLANDO FILHO, J. Calibração das análises de fósforo e potássio no solo em cana-de-açúcar, 2a aproximação - Araras, São Paulo, IAA/PLANALSUCAR - COSUL - 1981, 13 p. (Trabalho apresentado na reunião da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. 18, Salvador, 1981).

3.      - BITTENCOURT, V.C.; ORLANDO FILHO, J; ZAMBELLO JÚNIOR, E. Determination of available P for sugarcane in tropical soil by extraction with H2SO4 0,5N. In CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY OF SUGARCANE TECNOLOGISTS - 16, São Paulo, 1977. Proceedings, Sao Paulo, Inpress., 1978. v. 2, p.   1175- 1186.