Fertilidade do Solo

 Revisão de maio de 2002.

Amostragem do Solo para a Avaliação da Fertilidade 

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1. Introdução

As definições para a utilização de corretivos e fertilizantes na agricultura, para estarem em conformidade com critérios agronômicos tecnicamente corretos, devem estar alicerçadas em informações de análises químicas de amostras de solos, coletadas criteriosamente no campo, nas quais são determinadas as condições de acidez apresentadas pelos solos e os respectivas teores de elementos químicos importantes para as plantas - micro e macro nutrientes - neles contidos.

O uso de corretivos e fertilizantes têm como finalidade adequar a fertilidade do solo às necessidades nutricionais da cultura que se pretende plantar ou que esteja plantada em um determinado local. Adequar a fertilidade do solo às necessidades de uma cultura, significa dotá-lo de quantidades de elementos químicos que sejam suficientes para ajustar a sua acidez a níveis adequados para o desenvolvimento radicular das plantas e satisfazer a demanda nutricional das mesmas em seus ciclos produtivos.

A demanda por nutrientes é um tema continuamente estudado pelas instituições de pesquisa e pelos produtores (produtores individuais, empresas agrícolas, etc.), procurando, através da experimentação local ou regional, produzir informações que ofereçam parâmetros seguros, indicando quais as reais necessidades nutricionais de cada cultura em cada ambiente onde ela está sendo plantada. Por outro lado cada solo, com o seu respectivo nível de fertilidade atual, irá apresentar uma necessidade específica de fertilizante para suprir as necessidades para a plena produção de uma determinada cultura. De posse de um conjunto significativo de informações sobre essas relações entre o solo e a planta, no que tange à fertilidade, pode-se criar curvas de calibração para a determinação das necessidades que cada tipo de cultura apresenta com relação a cada elemento nutriente existente no solo. Com isso pode-se evitar o desperdício de fertilizantes e corretivos, quando os mesmos são aplicados ao solo para complementar as necessidades nutricionais das culturas.

2. Condições para a Obtenção das Informações

Rotineiramente as condições de acidez do solo e os teores dos principais elementos químicos nele encontrados, são determinados através de análises químicas, em amostras coletadas de forma planejada e organizada nas áreas com a cultura já instalada (culturas perenes) ou em áreas destinadas ao plantio. As quantidades encontradas através dessas determinações analíticas são a expressão do nível de fertilidade atual em que se encontram os solos onde foram realizadas tais amostragens,

De forma geral, as determinações químicas são efetuadas em amostras compostas, procurando assim, estimar a fertilidade média das áreas destinadas ao plantio. Essas amostras compostas são originadas de amostras simples ou subamostras, coletadas em número e posições, conforme especificações definidas para cada tipo de cultura, observando as condições em que se encontra o terreno na área a ser amostrada no momento da coleta. Para a obtenção de informações que permitam conhecer e acompanhar a fertilidade de um solo é necessário elaborar um planejamento onde estejam contemplados os seguintes pontos :

  1. uma metodologia para a coleta de amostras no campo, de acordo com indicações para uma cultura já instalada ou a ser plantada;
  2. a definição dos elementos químicos que se deseja conhecer - culturas e solos apresentam respectivamente necessidades e composições muito variáveis;
  3. os procedimentos laboratoriais para a determinação dos elementos químicos a serem analisados nas amostras.

Esse planejamento para a coleta e análise química dos solos amostrados deve ser envolvido de muito cuidado, pois apenas uma pequena quantidade do material coletado estará definindo as necessidades de corretivos e fertilizantes para o ajuste da fertilidade desses solos. Além disso, esses cuidados com o planejamento e realização da amostragem e a organização da informação, associados ao conhecimento das demandas nutricionais das plantas cultivadas, são os fatores básicos que irão proporcionar uma melhor indicação dos produtos e doses a serem aplicadas, cuja resultante deverá ser a melhor produtividade econômica da cultura.

3. Cuidados no Procedimento Amostral

A coleta de amostras de solo no campo é considerada o fator de maior interferência na representatividade dos valores obtidos em análises laboratoriais para a determinação dos elementos químicos escolhidos para serem quantificados. Todavia, além desses cuidados dispensados para se realizar a coleta das amostras no campo, outros fatores como o clima (épocas do ano), manejo do solo e manejo da adubação também devem ser considerados para garantir a representatividade dos resultados obtidos.

3.1. Fatores que Podem Interferir nos Resultados

O solo, apesar de sua composição predominantemente mineral, é um organismo com intensa atividade biológica. As atuação dessa população de microrganismos pode promover variações na composição do solo, nos seus conteúdos dos minerais disponíveis para as plantas, e nas diferentes concentrações dos mesmos ao longo de sua superfície agricultável. Entretanto, essas alterações na composição solo, quando ocorrem naturalmente, obedecem uma escala de tempo (muitíssimo lenta) diferente daquelas observadas em outros organismos vivos. Contudo, essa escala de tempo pode ter o seu ritmo acelerado, em virtude de interferências externas, como aquelas decorrentes da atividade humana. Ainda assim, essas alterações, na maioria dos casos, serão relativamente lentas ao longo do tempo {Silva(1992a)}.

Conhecer essa dinâmica e sua interferência na composição de um solo, tendo como finalidade atender as necessidades das culturas e como objetivo específico otimizar a produção de diferentes produtos agrícolas, é um desafio posto com freqüência para aqueles que lidam com a agricultura.

3.1.1. Coleta das Amostras no Campo

Qualquer procedimento amostral constitui-se num processo aleatório de escolha e, portanto, está sujeito a erros. Erros esses, que podem ser controlados ou minimizados com a adoção de procedimentos estatisticamente comprovados, visando garantir melhor qualidade nos resultados obtidos de amostras de solo analisadas com essa finalidade. Entretanto, ainda que possam ser ajustados, esses erros nunca serão eliminados.

Essa restrição do processo amostral faz com que a coleta de amostras de solo no campo seja apontada como o fator de maior interferência na representatividade dos valores de cada elemento químico determinado nas análises laboratoriais. Estima-se que a amostragem de solo seja o fator de maior interferência, sendo a ela atribuído entre 80 e 85% dos erros nas determinações laboratoriais. Apenas 15 a 20% das possibilidades de erros são atribuídas às determinações laboratoriais dos elementos químicos que se deseja conhecer {Orlando Filho(1983a)}. A importância dos critérios para a coleta das amostras de solo no campo é determinante para que se tenha confiabilidade nos dados, pois ainda que realizadas com total controle de precisão, as análises laboratoriais não poderão suprir falhas ocorridas durante o trabalho de campo.

Para que se tenha garantia da qualidade dos dados resultantes dessas análises químicas, é recomendado que as glebas (áreas amostrais) não excedam 20 ha, apresentem uniformidade de topografia, cor, textura e tenham sido utilizadas com uma mesma cultura no cultivo anterior (não é recomendável misturar solo de área recém desmatada com área anteriormente plantada com uma cultura anual).

Quando a área está sem cultura as amostras devem ser coletadas caminhando-se em zig- zag cobrindo toda a superfície das unidades amostrais. Para culturas específicas essas amostras devem ser coletadas segundo recomendações técnicas definidas para cada uma delas (aqui o nosso objetivo será definir um procedimento específico para a cultura da cana-de-açúcar).

Nessa área devem ser coletadas entre 15 e 45 amostras simples ou subamostras, na profundidade de 0-20 cm e acomodadas em um recipiente (balde, saco, etc.). Para formar uma amostra composta, essas subamostras devem ser bem misturadas no recipiente onde foram coletadas de onde devem ser retirados entre 300 e 400 gramas. Depois de secas ao ar e identificadas cuidadosamente, essas amostras de solo devem ser enviadas para laboratórios especializados para serem analisadas quimicamente {Catani(1974a)} e {van Raij(1997a)}.

A agricultura racionalmente conduzida, com a utilização de níveis adequados de corretivos e de fertilizantes, promove alterações sensíveis na fertilidade dos solos com o passar dos anos {Araújo(1993a)}. Tendo em vista que o acompanhamento dessa evolução da fertilidade pode proporcionar economia com o uso de insumos, é recomendado que as amostragens do solo e as análises químicas das mesmas sejam repetidas anualmente em as áreas cultivadas com culturas de ciclos anuais. Em culturas perenes essas amostragens devem seguir padrões definidos para cada tipo de plantação, enquanto em culturas semi perenes, como é o caso da cana-de-açúcar, a amostragem deve ser realizada prioritariamente em novas áreas, fruto de ampliações da área plantada, ou em locais destinadas à reforma dos canaviais.

Embora muitas citações contidas nesse trabalho tenham sido retiradas de estudos desenvolvidos para outras culturas anuais, o nosso objetivo aqui será discutir um procedimento específico para a condução do trabalho de coleta de amostras de solo no campo, tendo como finalidade a avaliação da fertilidade dos terrenos destinados ao plantio da cultura de cana-de-açúcar.

3.1.1.1. Instrumentos para a Coleta de Amostras de Solo no Campo

As amostras podem ser coletadas com diferentes instrumentos (figura 01), desde os mais simples como uma pá reta, até trados e sondas de aço produzidos especialmente para essa finalidade. O importante é que cada um desses instrumentos promova a retirada de porções uniformes do solo no intervalo de profundidade definido para a coleta da amostra. O instrumento mais prático para a retirada de amostras, quando elas são realizadas em amplas áreas e com relativa freqüência, é o trado do tipo holandês, que possibilita a retirada de amostras em volume padronizado e é muito fácil de ser transportado pelo amostrador durante o trabalho de campo (Fig.1). Como realçado no item anterior, o responsável pela amostragem deve levar consigo um recipiente para homogeneizar as subamostras coletadas, para daí retirar a amostra composta que irá representar a fertilidade da área amostrada. O recipiente utilizado para a mistura e homogeneização das subamostras deverá estar livre de contaminações que possam comprometer a qualidade das determinações laboratoriais. Essa amostra composta deverá ser acondicionada em embalagem específica para essa finalidade, contendo a identificação correta do local de retirada da amostra.

Figura 1. – Ferramentas comumente utilizadas para a coleta de amostras de solo.

3.1.2. Condições do Terreno

Os resultados das análises químicas de amostras de solo podem ter a sua precisão afetada por outros fatores que não aqueles relacionados com o processo amostral. Além de uma dinâmica própria, que naturalmente provoca alterações em suas propriedades químicas, os solos podem apresentar variações de importância para a prática agrícola, em função da forma como é processada a sua fertilização, do estado de exploração quando da sua utilização e das condições climáticas no momento da realização da amostragem. Com diferentes graus de interferência, cada um desses fatores tem o seu potencial para atuar sobre a variação do conteúdo dos elementos químicos encontrados em amostras de solo. Em razão disso, torna-se necessário que sejam adotados alguns procedimentos na condução de trabalhos destinados a acompanhar a fertilidade dos solos, para que os resultados obtidos possam servir como indicadores seguros e confiáveis para recomendações destinadas a orientar o uso de corretivos e o fornecimento de fertilizantes para as plantas cultivadas.

3.1.2.1. Situação do Terreno e Estado de Exploração

Os teores dos elementos químicos encontrados nos solos podem ser influenciados por diversos fatores, dentre eles, a situação topográfica das unidades amostrais e condição de exploração da área em questão.

Em situações topográficas diferentes, solos aparentemente similares podem apresentar variações significativas para um mesmo elemento analisado {Barreto(1974a)}. Nesse estudo os autores encontraram variações de grande amplitude para fósforo e potássio e variações pouco significativas para os valores de pH, Alumínio e Cálcio+Magnésio para essas diferentes condições de topografia. Entre as duas posições topográficas estudadas, as variações mais significativas ficaram para o Fósforo e para o Potássio. Por essa razão recomenda-se que as unidades amostrais, ao serem definidas, estejam, cada uma delas, sempre circunscritas a uma mesma condição de semelhança para as principais características dos solos.

O tipo de manejo do solo é outro fator que pode interferir na determinação dos teores dos elementos químicos determinados em amostras de solo coletadas em uma mesma área amostral. Submetidos ao preparo convencional os solos podem apresentar uma tendência de redução dos teores dos elementos químicos analisados, quando confrontados com teores encontrados em solos com algum tempo de estabilidade {Matiazzo(1984a)}.

Observações mostram que os valores encontrados nas determinações analíticas em amostras de terrenos estabilizados são freqüentemente maiores e mais estáveis. Em estudo para a determinação do número de amostras de solo em área destinada ao plantio de grãos verificou-se que o manejo do mesmo alterava a uniformidade do terreno {Santos (1987a)} provocando um aumento substancial da variação dos teores dos principais elementos químicos, para os diversos critérios de amostragem adotados. No referido estudo foram avaliadas as coletas de amostras em uma área recém desmatada (em sua condição natural), após realizadas as operações de aração e gradagem e depois da colheita da cultura de milho. A conclusão do trabalho pontifica que para cada tipo de manejo ao qual o solo foi submetido, alteraram-se as condições do terreno, provocando alterações nos teores dos principais elementos químicos do solo, em amostras de solo coletadas para essa finalidade. As menores variações aconteceram para os valores de pH, Al e M.O., enquanto que as maiores variações ficaram com P, Ca, Mg e K.

3.1.2.2. Ação do Uso de Fertilizantes

O uso intenso do solo, sob a prática de uma agricultura moderna, provoca alterações de alguma significância em suas propriedades físicas e de grande importância na propriedades químicas, especialmente no que diz respeito à sua fertilidade. O acúmulo de elementos químicos com maior grau de estabilidade, quando aplicados ao solo em forma de corretivos ou de fertilizantes, promove no mesmo essas alterações. Entretanto, o fato de serem aplicados no solo de forma localizada (as culturas anuais e semi-perenes são normalmente plantadas em linha), promove uma certa irregularidade da distribuição dos mesmos no terreno. Com esse grau de heterogeneidade torna-se necessário um maior aprimoramento para a coleta de amostras de solo.

Estudos para a avaliação dessas interferências são comumente realizados tendo o fósforo como indicador, pelo fato de ser ele um elemento de relevante importância para o crescimento das plantas e apresentar um comportamento muito bem definido e conhecido no solo. Em avaliações conduzidas em um experimento anteriormente plantado com milho constatou-se, que a distribuição desse elemento no solo, em decorrência da sua forma de aplicação durante o plantio, podia interferir de forma determinante sobre os teores de fósforo, dependendo da escolha dos locais onde eram coletadas as amostras.

Em razão de sua pouca mobilidade no solo o fósforo fica restrito ao local onde foi depositado no solo. Estudando diversas proporções entre amostras de solo, coletadas nas entrelinhas e na linhas de milho, verificou-se que o teres de fósforo variaram linearmente com a crescente quantidade de terra proveniente das amostras coletadas no sulco de plantio {Vasconcellos(1982a)}. Ainda que essa desuniformidade permanecesse mesmo após submetido ao preparo de solo (partes não destorroadas podiam ser encontradas com valores discrepantes), o autor concluía que os erros seriam minimizados, caso as amostras fossem coletadas após a aração e a gradagem.

3.1.2.3. Interferência do Clima

A situação climática, sob a qual são coletadas amostras de solos, pode interferir acentuadamente sobre a quantificação dos elementos químicos determinados analiticamente. A situação de maior interferência está relacionada com o período das chuvas, quando é alterada significativamente a umidade dos solos. Essa alteração na umidade leva à obtenção de resultados divergentes na quantificação desses elementos no solo, quando comparados com os teores encontradas em amostras coletadas em outras épocas do ano. As determinações do pH e do potássio são as mais comprometidas pela variação da umidade no solo, ainda que o pH, juntamente com o alumínio e com a Matéria Orgânica (M.O.) sejam determinações que apresentem as menores variabilidades e necessitem menores números de amostras para a sua quantificação no solo {Santos(1987a)}. As determinações analíticas efetuadas em amostras coletadas durante o outono e o inverno apresentam maior estabilidade e constância. O pH é mais constante, o potássio apresenta os melhores teores e o fósforo, cálcio e magnésio também se mantém com maior uniformidade no solo {Orlando Filho(1977a).

4. Uma metodologia para Amostragem de Solo para a Lavoura de Cana-de-Açúcar

Considerando que o manejo do solo, a época de amostragem e a condição do terreno com relação a culturas previamente plantadas na área são fatores de interferência sobre as determinações analíticas em amostras de solo, é fundamental que sejam estabelecidos procedimentos para a amostragem de solos, de forma que esses fatores possam ser contornados. Esses fatores, associados à organização das áreas, são condições muito importantes para serem consideradas, quando se deseja construir um histórico consistente da fertilidade das áreas cultivadas em uma propriedade. Assim, quando se pretende uniformizar os critérios para a elaboração de um programa de acompanhamento da fertilidade dos solos, se faz necessário escolher uma mesma época do ano para se realizar a coleta das amostras de solo e adotar sempre a mesma metodologia para a coleta das amostras. Outras medidas adicionais se fazem necessárias, como cuidar para que os solos das unidades amostrais apresentem-se com a maior uniformidade possível e estejam sempre sob uma mesma condição de manejo.

Além desses cuidados específicos com a coleta das amostras de solo, uma condição básica para facilitar a organização das informações seria que as áreas cultivadas (especificamente no caso da cana) mantivessem constantes, ao longo do tempo, a configuração, a demarcação e a identificação dos lotes. Assim a organização das informações geradas a partir das amostras de solo, possibilitariam a construção de registros históricos mais precisos.

4.1. Época e Freqüência de Amostragem

Na lavoura de cana-de-açúcar a coleta de amostras de solo é realizada, costumeiramente, com o canavial presente ou antes da destruição das soqueiras e, portanto, o trabalho pode ser realizado com fácil orientação e em condições relativamente estáveis do terreno. Esse trabalho é rotineiramente realizado em áreas com canaviais de ciclos mais avançados ou com problemas culturais e que, em razão de um planejamento da lavoura ou por contingência (produtividade insatisfatória), serão reformadas. Considerando a forma como é conduzida essa cultura, a estação seca (outono/inverno para a região sul e o verão/outono para a região nordeste) é a época mais indicada para a realização da amostragem do solo. Em função da constância climática, nessa época, não por acaso, realiza-se a colheita da cana. Essa condição de maior estabilidade climática também pode manter mais estáveis as atividades químicas e biológicas no solo. Com a lavoura ainda implantada as condições anteriormente consideradas podem ser atendidas. Entretanto, as novas áreas incluídas no programa de plantio, anteriormente ocupadas com outras culturas, deverão ser tratadas de forma diferenciadas quanto ao procedimento amostral, uma vez que as mesmas se encontram em condições diferentes daquelas em que se encontram as áreas já cultivados com cana-de-açúcar.

Os solos preparados e consequentemente revolvidos poderão apresentar distorções nas concentrações de seus principais elementos químicos. Quando comparados com solos estabilizados, após certo tempo de acomodação, esses valores poderão ser inferiores ou superiores, em decorrência da intensidade de movimentação das camadas do solo durante as operações de preparo de solo. Esse fato poderá comprometer eventuais comparações entre as características de fertilidade destes solos e as dos solos de outras áreas já cultivadas com cana-de-açúcar. Entretanto, tal fato não irá gerar restrições, que venham comprometer a interpretação dos resultados e dificultar as definições para as recomendações dos insumos necessários para a correção do solo e fornecimento de nutrientes para a cultura, quando da realização do plantio.

4.2. Condições para a Coleta das Amostras de Solo

As empresas produtoras de cana-de-açúcar utilizam o talhão como unidade operacional e ali desenvolvem todas as atividades agrícolas necessárias à condução da lavoura. As estradas e carreadores que definem os limites têm a finalidade de facilitar a organização da produção (operações agrícolas, aplicação de insumos e utilização de mão-de-obra), a movimentação de máquinas e veículos e o transporte da cana para a indústria. Pelo fato de serem concebidas com finalidades específicas, essas estruturas viárias não respeitam os limites das diversas unidades de solos que compõem uma área cultivada. Assim, alguns talhões podem incluir em sua delimitação mais de uma unidade de solo e consequentemente impossibilitar que essas áreas apresentem as características de homogeneidade desejadas. Dessa forma, a amostragem do solo do talhão deverá ser a representação da média da fertilidade desse talhão, preferencialmente coletadas conforme as indicações que seguem:

    1. área amostral com superfície entre 10 e 30 ha;
    2. profundidade para retirada da amostra entre 0-20 cm (podendo ser feitas amostras na profundidade de 20-40 cm, ou profundidades maiores, dependendo da avaliação que se pretenda fazer {InfoAgri(1983a)});
    3. número de pontos em cada talhão entre de 15 e 40 (subamostras para compor uma amostra composta);
    4. volume constante na retirada de cada amostra simples ou subamostra;
    5. uma amostra composta para representar a fertilidade do talhão;
    6. amostra composta (seca ao ar) com aproximadamente 400g;
    7. embalar em recipiente apropriado e identificar o local da coleta.

4.3. Quantificação dos Pontos Amostrais (subamostras) para cada Talhão

Em áreas, onde a lavoura de cana já esteja instalada, a fertilidade média de um lote ou talhão pode ser representada com pontos distribuídos nas linhas e entrelinhas do canavial (Fig.2). Esse procedimento é aplicado, rotineiramente, em diversas regiões do mundo, onde a cultura da cana-de-açúcar exerce importante papel comercial. Considerando-se os itens a) a e) do tópico 4.2. e assumindo-se o talhão como unidade operacional, a amostragem de solo, para as definições de recomendações para a cultura da cana de açúcar, pode ser realizada conforme segue:

    1. definir como unidades amostrais com áreas de 5 ha (subdivisão virtual do talhão para definir o número total de subamostras a serem coletadas);
    2. em cada uma dessas unidades amostrais, coletar oito (8) subamostras, sendo sete (7) delas na entrelinha e uma (1) subamostra na linha de cana.

De posse dessas duas definições podemos calcular o número de subamostras a serem coletadas para representar a fertilidade de um determinado talhão a ser plantado com cana. Suponhamos uma área com 24 ha. Dividindo-a por 5 ha (valor de área definido como unidade amostral) teremos aproximadamente 5 módulos (importante: quando da divisão, promover o arredondamento sempre para maior). Considerando o número de sete subamostras retiradas nas entrelinhas e 1 na linha de cana seriam necessárias um total de 40 subamostras sendo 5 na linha e trinta e cinco nas entrelinhas da cana, procurando distribuí-las na área de forma que se possa assegurar a melhor distribuição dos pontos amostrais, fazendo com que a amostragem cubra o máximo da área onde se deseja realizar o trabalho. Em áreas com superfícies menores que o valor de uma unidade amostral (5 ha), o número de subamostras deverá ser no mínimo igual ao valor inferior do intervalo citado no item 4.2., letra c - 15 subamostras), considerado um número adequado de pontos amostrais para representar a fertilidade de uma área.

Esse número de subamostras, calculados segundo modelo acima sugerido e essa forma de distribuir os pontos de coletas (subamostras), com a finalidade compor uma amostra composta, são procedimentos comprovadamente eficazes para representar a fertilidade média de um talhão padrão em áreas plantadas com cana-de-açúcar {Matiazzo(1984a)}.

Figura 2. - Modelo esquemático para a definição das unidades amostrais e da distribuição dos pontos de coletas das subamostras em um talhão de cana.

 Amostragem na linha de cana Amostragem na entrelinha de cana

A, B, C, D e E - Unidades amostrais com superfície de aproximadamente 5 ha.

 Quando alguma gleba, programada para ser plantada com cana, encontra-se sob outro tipo de vegetação ou cultivado com outras culturas, a amostragem deve ser conduzida segundo procedimentos tradicionais {Catani(1974a)}, contudo, o número de subamostras, para produzir uma amostra composta, deve continuar sendo calculado conforme os critérios definidos nas letras a) e b), deste item (4.3.).

Assim, para cada talhão é preparada uma amostra composta que será encaminhada para análise, tomando-se o cuidado de eleger uma instituição, cujo trabalho seja idôneo e confiável. Essa é uma abordagem interessante para o momento presente, onde os conceitos anteriormente discutidos, aplicam-se ao modelo atual de prática agrícola. No momento em que a agricultura de precisão for uma realidade para a agricultura da cana-de-açúcar, alguns desses conceitos poderão ser revisados, mais especificamente aqueles relacionados com a instrumentalização da coleta de subamostras no campo.

5. Definição para os Elementos a serem Analisados e para os Procedimentos Laboratoriais em suas Determinações

Conforme referido anteriormente, o planejamento e a realização da amostragem no campo, ao serem realizados com o direcionamento apropriado, serão a garantia de sucesso nas recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes para os solos dos locais escolhidos para a implantação da cultura. Associados a esses cuidados operacionais, são necessários cuidados organizacionais como a identificação correta dos recipientes enviados para o laboratório e um arquivo bem organizado contendo as informações obtidas através dessas análises laboratoriais. É esse arquivo que permitirá acompanhar a evolução da fertilidade dos solos cultivados nas propriedades de uma empresa agrícola, possibilitando que a cada plantio possam ser realizadas ações tecnicamente consistentes para correção e fertilização dos mesmos.

As decisões, para serem tomadas com segurança, de forma que sejam economicamente garantidas, deverão estar apoiadas em estudos que definam as quantidades mínimas de corretivos e fertilizantes a serem aplicados aos solos para garantir uma produtividade compatível com as características dos solos e das plantas.

Essas quantidades são estabelecidas através de curvas de calibração, as quais podem ser utilizadas para ajustar o solo às necessidades das plantas. Elas podem ser obtidas experimentalmente e servirem tanto para definições de quantidades de corretivos, quanto para o ajuste dos teores de outros elementos químicos do solo, fundamentais para a garantia de boas produtividades agrícolas, especialmente fósforo, cálcio, potássio e magnésio {Rodella(1983a)}. Desta forma, as produtividades obtidas serão decorrência natural dos limites do potencial produtivo da planta, condicionado à capacidade do solo em suprir tais demandas.

As metodologias para a determinação dos elementos de maior importância para o desenvolvimento das plantas são muitas e diversas, especialmente aquelas relacionadas com a determinação do fósforo. Dessa forma, o conhecimento das metodologias de análise de solos e suas implicações na recomendação das quantidades de fertilizantes e de corretivos para o solo são fundamentais para que uma programação do uso desses produtos na lavoura apresente a eficácia desejada. Dentre essas metodologias destacam-se as formas como os elementos são extraídos (uso de diferentes extratores, proporcionam diferentes quantidades dos elementos em uma mesma amostra de solo) das amostras de solo e as curvas de calibração originadas dessas determinações para a definição das recomendações.

Esses estudos de calibração indicam as melhores formas de associar-se os teores dos elementos existentes no solo, às quantidades de produtos corretivos ou fertilizantes a serem utilizadas por ocasião da aplicação dos insumos, seja por ocasião do plantio, seja por ocasião dos tratos culturais. O volume de informações publicadas é muito grande e através delas pode-se fazer recomendações seguras dos principais fertilizantes e corretivos e as respectivas quantidades a serem aplicadas. Assim a definição dos elementos químicos que se deseja conhecer e dos procedimentos laboratoriais para sua a determinação nas amostras de solos são pontos de vital importância para as definições de tais recomendações para corretivos e fertilizantes a serem aplicados nesses solos.

A utilização dessas informações possibilitará significativas economias para o empreendimento, uma vez que os insumos serão aplicados apenas onde as suas necessidades forem efetivamente constatadas e nas quantidades que satisfaçam as necessidades da cultura que se pretenda implantar.