EFEITO DA CALAGEM NA MINERALIZAÇÃO DO NITROGÊNIO
EM SOLOS DE MINAS GERAIS (1)
C. A. SILVA (2;5);
F.R. VALE ( 3;5) &
L. R. G. GUILHERME (4;5)
RESUMO
O presente
estudo, desenvolvido em condições de laboratório, em fevereiro-maio de 1989,
objetivou avaliar a influência da acidez da sola sabre a mineralização do
nitrogênio em sete solas do Sul de Minas Gerais, e seu eleita na processa da
nitrificação. Amostras coletadas na profundidade de 5-10cm e pré-incubadas ou
não com CaCO3:MgCO3, foram incubadas em funis de plástico,
em condições aeróbias de laboratório, durante cem dias, período na qual foram
efetuadas seis percolações com CaCl2 0,01 mol/L para determinação de
N-NH4 e N-NO3. A mineralização da nitrogênio mostrou-se
bastante afetada pelas condições de acidez do solo, pais as maiores taxas de
mineralização, à exceção da latassalo roxo, vegetação de mata, foram obtidas
quando se aplicou a corretivo. Os teores de matéria orgânica e N total
apresentaram correlação significativa com o N mineralizada acumulada nas solos,
independentemente da calagem. A maior intensidade da processo de nitrificação
foi verificada sob acidez corrigida, refletida, de modo geral, pela maior
relação nitrato/amônio obtida com a elevação do pH do sala, exceto para a solo
sob eucalipto (Eucalyptus sp).
Termos de
indexação: nitrogênio, mineralização, calagem, nitrificação
SUMMARY: EFFECT OF LIMING ON NITROGEN MINERALIZATION
OF SOILS FROM MINAS GERAIS STATE
This study was carried out under laboratory
conditions, during February-May 1989 to evaluate the effect of soil acidity on
nitrogen mineralization as well as the effect on nitrification, in seven
surface soils (5-10 cm) of tire southern part of Minas Gerais State, Brazil. Fifty
grams of soil sample with acidity corrected or not were mixed with 50g of
medium sand and incubated under aerobic conditions for 100 days. The nitrogen
mineralization and nitrification were assessed by ammonium and nitrate
production under natural and optimum soil pH. Nitrogen mineralization and
nitrification were affected not only by soil acidity but also by the type of
vegetation that covered the soil site. Liming the soils to a pH around 6.0
resulted in increased net nitrogen mineralization rate, except for the soil
under natural forest vegetation. Liming the soils also increased nitrification
rate; except for the soil under eucalyptus (Eucalyptus sp.) vegetation. Organic
matter and total nitrogen content were highly correlated with tire net nitrogen
mineralized, independently of soil acidity.
Index terms: nitrogen, mineralization, liming,
nitrification.
INTRODUÇÃO
O completo
entendimento das transformações do nitrogênio no solo constitui fator
importante para a maximização do seu uso pelas plantas e, por conseguinte,
maior eficiência da adubação nitrogenada.
Entre as
transformações do N, há um destaque para a mineralização, processo que consiste
na conversão do N orgânico para a forma inorgânica (N-NH4+).
Essa transformação é mediada, principalmente, pelos microrganismos
heterotróficos, que utilizam substâncias orgânicas como fonte de energia
(Jansson & Persson, 1982).
Em oposição à
mineralização, e concomitantemente a este processo, ocorre a imobilização, que
consiste na remoção do nitrogênio inorgânico do solo pelos microrganismos
decompositores da matéria orgânica, durante a multiplicação, crescimento e
manutenção da biomassa do solo.
A intensidade da
mineralização depende de diversos fatores, como: tipo de solo, conteúdo de
matéria orgânica e N total, relação C/N, pH, temperatura, umidade, secamento,
congelamento, suprimento de nutrientes inorgânicos e interações solo-planta
(Black, 1968).
Entre eles, o pH
do solo constitui o mais importante fator a condicionar o processo de
mineralização da matéria orgânica (Haynes, 1986). De modo geral, com a correção
da acidez do solo, tem-se verificado aumento nas taxas de mineralização do
nitrogênio (Nyborg & Hoyt, 1978; Nyborg et al, 1988; Cabaneiro et al.,
1990), embora esse efeito possa ser apenas temporário (Nyborg & Hoyt,
1978). Mesmo em ecossistemas florestais, a aplicação de calcário tem acelerado
a decomposição da matéria orgânica e a mineralização do nitrogênio (Adams et
al., 1978).
Segundo Pottker
& Tedesco (1979), estudos de mineralização da matéria orgânica tornam-se
importantes no que tange à obtenção de índices de disponibilidade de nitrogênio
para as plantas.
O presente estudo
objetivou avaliar o efeito da calagem sobre a capacidade de mineralização e
nitrificação de sete solos do Sul de Minas Gerais.
MATERIAL E
MÉTODOS
Foram utilizados
sete solos da região Sul de Minas Gerais, coletados na profundidade de 5-10cm e
cujas amostras foram secas ao ar e, posteriormente, tamisadas em peneira com
malha de 2 mm. A classificação dos solos, a vegetação, os símbolos e a
caracterização física e química encontram-se no quadro 1.
As análises
químicas foram efetuadas segundo os métodos descritos por EMBRAPA (1979), para
pH em água, H + A13+ , Ca2+, Mg2+, K+
e P. O carbono orgânico foi determinado segundo método proposto por Raij &
Quaggio (1983), calculando-se, de forma indireta, o teor de matéria orgânica. O
nitrogênio total foi analisado conforme o método descrito por Bremner &
Mulvaney (1982), e a análise granulométrica, feita de acordo com Camargo et al.
(1986).
Quadra 1.
Classificação, símbolos, argila, silte, areia e principais propriedades
químicas da camada de 5-10cm dos solos estudadas.
Solos |
Simb |
Vegetação |
Arg |
Silt |
Ar |
Al |
Ca |
Mg |
H+Al |
K |
P |
MO |
Nt |
% |
cmol(+)/dm3 |
mg/kg |
g/kg |
||||||||||
Latossolo roxo |
LR1 |
Mata |
62 |
3 |
35 |
1,4 |
0,4 |
0,1 |
11,9 |
58 |
2 |
44 |
2,8 |
Latossolo roxo |
LR2 |
Milho |
63 |
5 |
32 |
0,2 |
2,5 |
0,4 |
5,3 |
27 |
5 |
35 |
2,2 |
Latossolo roxo |
LR3 |
Eucalipto |
59 |
9 |
32 |
1,4 |
0,1 |
0,1 |
9,2 |
12 |
2 |
33 |
2,0 |
Latossolo vermelho-escuro |
LE |
Past. Natural |
30 |
45 |
25 |
0,8 |
0,4 |
0,1 |
5,9 |
27 |
1 |
29 |
1,9 |
Latossolo vermelho-amarelo |
LV |
Past. Natural |
22 |
35 |
35 |
0,6 |
0,2 |
0,1 |
2,9 |
23 |
1 |
9 |
0,7 |
Cambissolo |
C |
Past. Natural |
34 |
26 |
40 |
2,5 |
0,7 |
0,1 |
8,2 |
59 |
2 |
33 |
1,2 |
Glei pouco húmico |
HGP |
Milho |
30 |
45 |
25 |
2,1 |
0,4 |
0,1 |
7,3 |
22 |
3 |
26 |
1,2 |
A necessidade de
calagem foi determinada segundo Raij (1991), para uma saturação por bases de
60%. Os solos, após a calagem (CaCO3:MgCO3 p.a., na
proporção de 4 + 1) foram pré-incubados por quarenta dias. Durante esse
período, avaliou-se o N mineralizado.
Após a reação do
calcário, transferiram-se para funis de plástico 50 g de cada solo (com e sem
calagem) e 50 g de areia média. Todos os funis foram cobertos com papel de
alumínio, com a finalidade de evitar perdas excessivas de água por evaporação.
Foi feito um furo central em cada proteção de alumínio com o intuito de
facilitar trocas gasosas entre os solos e o meio externo. A incubação, que teve
início em fevereiro de 1989 e término na primeira quinzena de maio do mesmo
ano, foi realizada em laboratório à temperatura ambiente, variando a diária
entre 22 e 310C, com valor médio de 260C.
Efetuou-se a
extração do nitrogênio mineralizado (N-NH4+ e N-NO3-)
percolando-se o solo com 100ml de CaCl2 0,01 mol/L, em incrementos
de 25 ml, nos seguintes tempos de incubação: 0, 40, 55, 70, 85 e 100 dias. A
extração no tempo zero teve por objetivo quantificar o nitrogênio mineral
inicial presente nos solos. Em duas das lavagens iniciais (40 e 55 dias de
incubação), adicionaram-se aos solos 40ml de solução nutritiva com a seguinte
composição: MgSO4.7H2O 0,002M, Fe EDTA 5 mg/L, K2SO4
0,0025M e Ca(H2PO4) 2.H2O 0,004M.
Nas lavagens posteriores, em vez da solução nutritiva, adicionaram-se 20 ml de
água destilada, O nitrogênio mineralizado (N-NH4+ + N-NO3-
) foi quantificado segundo Keeney & Nelson (1982).
O delineamento
experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com três repetições.
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
No quadro 2 são
apresentados os teores de nitrogênio mineralizado, na ausência e na presença da
calagem, durante os cem dias de incubação. A mineralização do nitrogênio
decresceu com o tempo, concordando com os resultados obtidos por Stanfomd &
Smith (1972).
As maiores taxas
de mineralização foram observadas nos primeiros 55 dias de incubação. A calagem
promoveu um incremento na mineralização do N, sendo as maiores taxas obtidas
durante os 40 dias iniciais de incubação. Na ausência da calagem, a maior
intensidade de mineralização do N se deu no período de 4 1-55 dias de incubação
(Quadro 2).
Quadro 2.
Mineralização líquida do nitrogênio em sete solos do Sul de Minas Gerais, sem e
com a aplicação de calcário
Solos (1) |
Período de Incubação (dias) |
|||||||||
0-40 |
41-55 |
56-70 |
71-85 |
86-100 |
||||||
S(2) |
C(2) |
S(2) |
C(2) |
S(2) |
C(2) |
S(2) |
C(2) |
S(2) |
C(2) |
|
LR1 |
50 |
86 |
60 |
31 |
19 |
13 |
13 |
12 |
10 |
10 |
LR2 |
18 |
80 |
36 |
17 |
12 |
12 |
10 |
12 |
8 |
10 |
LR3 |
24 |
87 |
34 |
27 |
12 |
12 |
12 |
12 |
8 |
10 |
LE |
22 |
69 |
55 |
24 |
16 |
11 |
8 |
10 |
7 |
9 |
LV |
10 |
23 |
18 |
14 |
7 |
8 |
7 |
6 |
6 |
7 |
C |
14 |
44 |
38 |
21 |
13 |
11 |
8 |
10 |
9 |
10 |
HGP |
27 |
43 |
19 |
23 |
11 |
12 |
10 |
13 |
10 |
10 |
(1)- LRI: latossolo roxo; LR2: latossolo roxo; LR3: latossolo roxo; LE: latosaolo vermelho-escuro; LV: latossolo vermelho-amarelo; C: Cambissolo; HPG: glei pouco húmico. (2) S= Sem calagem; C= Com calagem. |
Com o avanço do
período de incubação, observou-se uma diminuição e estabilização nos teores de
N mineral produzido, com a adição ou não de calcário. Segundo Cornfield (1952),
as maiores taxas de mineralização nas semanas iniciais de incubação podem ser
atribuídas à mineralização da parte da matéria orgânica de fácil decomposição,
restando, após a degradação desses compostos orgânicos, resíduos orgânicos de
alta estabilidade e, por conseguinte, de decomposição mais lenta. Brandão
(1990) também observou que a calagem promove rapidamente a mineralização do
nitrogênio facilmente mineralizável, na medida em que o N extraído por
extratores químicos, utilizados na avaliação deste nitrogênio, se equivaleu ao
N mineral formado nos solos que receberam calcário.
Os maiores teores
de N mineralizado, acumulados após os cem dias de incubação (Quadro 3), foram
obtidos com a correção da acidez do solo, à exceção do solo LR1, que
apresentava os maiores teores de matéria orgânica e N total. Os resultados
estão de acordo com os apresentados por Dancer et al. (1973), Nyborg & Hoyt
(1978) e Nyborg et al. (1988), os quais observaram uma aceleração no processo
de mineralização e um aumento nos teores de N mineral com a aplicação de calcário.
O efeito da calagem sobre a mineralização não esteve relacionado somente aos
aumentos nos valores de pH e atividade microbiana, mas também podem estar
ligados à degradação de compostos com propriedades inibitórias à decomposição
da matéria orgânica, conforme sugerido por Marschner & Wilczynski (1991).
Os maiores
incrementos do N mineralizado (Quadro 3), obtidos pela diferença do N mineral
produzido nos tratamentos com e sem a aplicação de calcário, foram observados
nos solos LR3, LR2 e HGP, solos esses sob cultivo e com valores de pH, após a
aplicação de calcário, iguais ou superiores a 6,0, Em estudo que se buscou
avaliar a influência da calagem dobre o N mineralizado, em solos tratados com
uréia, Yadvinder-Singh & Beauchamp (1986) obtiveram resultados similares,
pois esses autores só observaram um significativo aumento do N mineralizado, em
solos com pH maior que 6,0. Contudo, os incrementos na mineralização de N,
provocados pela aplicação de calcário no presente estudo, foram inferiores aos
obtidos por Nyborg & Hoyt (1978), os quais observaram, em solos virgens e
cultivados, uma duplicação nos teores de N mineralizado com a calagem.
Quadro 3.
Nitrogênio mineral acumulado após 100 dias de Incubação, sem e com a aplicação
de calcário.
Solos (1) |
pH do solo |
N mineral acumulado |
Incremento de N mineral com a calagem |
||
Sem calagem |
Com Calagem |
Sem calagem |
Com calagem |
||
LR1 |
4,3 |
5,7 |
152 a (1) |
152 a |
0 |
LR2 |
5,8 |
6,0 |
84 b |
131 a |
47 |
LR3 |
4,2 |
6,2 |
90 b |
148 a |
58 |
LE |
4,7 |
5,8 |
108 b |
123 a |
15 |
LV |
6,1 |
7,0 |
48 b |
58 a |
10 |
C |
5,0 |
5,9 |
82 b |
96 a |
14 |
HGP |
4,2 |
6,0 |
77 b |
101 a |
24 |
(1) LR1: latossolo roxo; LR2: latossolo roxo; LR3: latossolo roxo; LE: latossolo vermelho-escuro; LV: latossolo vermelho-amarelo; C: cambissolo; HPG: glei pouco húmico. (2) Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tutkey ao nível de 5%. |
Independentemente
das condições de acidez, os solos LR sob vegetação de mata (LR1) e LV sob
pastagem apresentaram, respectivamente, a maior e a menor mineralização de
nitrogênio (Quadro 3).
A mineralização
observada nesses dois solos, bem como nos demais, mostrou-se bastante
influenciada pelos teores de matéria orgânica e N total, como se pode observar
nos altos coeficientes de correlação obtidos entre esses dois parâmetros e o
nitrogênio mineralizado acumulado, com e sem calagem (Quadro 4). Esses
resultados atestam a importância dos teores de matéria orgânica e N total na
predição do N potencialmente disponível. Observou-se também uma significativa
relação entre os teores de argila e o de N mineralizado, na ausência e na
presença da calagem. Segundo Jenny, citado por Haynes (1986), os teores de
matéria orgânica e N total tendem a aumentar com o aumento nos teores de
argila, o que ficou evidenciado no presente estudo, tendo em vista os
coeficientes de correlação obtidos entre argila e matéria orgânica (0,92) e
argila e N total (0,87).
Quadro 4.
Coeficientes de correlação entre os teores de matéria orgânica (M.O.), N (
total (Nt) e argila (Arg) com o
nitrogênio mineralizado acumulado (N min. ac.), na ausência e na presença de
calagem.
Correlação |
Calagem |
Coeficiente de correlação |
M.O. x N min. acumulado |
Com |
0,912** |
M.O. x N min. acumulado |
Sem |
0,928* |
Nt x N min. Acumulado |
Com |
0,966** |
Nt x N min. Acumulado |
Sem |
0,854* |
Arg x N min. Acumulado |
Com |
0,922* |
Arg x N min. acumulado |
Sem |
0,771* |
* e ** Significativos pelo teste de t aos níveis de 5 e 1% respectivamente. |
No quadro 5
encontram-se os teores de nitrogênio mineralizado, presentes nas formas de amônio
e nitrato. Na ausência de calagem, observam-se baixos valores para a relação
nitrato/amônio, com exceção do solo LR2, que já apresentava pH natural elevado,
e do HGP. A calagem aumentou a relação nitrato/amônio, à exceção do LR3,
sugerindo que a maior taxa de mineralização, obtida com a correção da acidez
neste solo, não foi acompanhada de maior intensidade no processo da
nitrificação. Possivelmente tal restrição esteja relacionada aos exsudatos da
raiz do eucalipto, ou aos produtos oriundos da decomposição de restos vegetais
desta espécie, os quais poderiam estar exercendo um efeito inibitório sobre a
atividade dos microrganismos nitrificadores.
Quadro 5. Teores
de amônio e nitrato presentes após cem dias de incubação em sete solos do Sul
de Minas Gerais, na ausência e na presença de calagem
Solos (1) |
Total acumulado |
Relação N-NO3- / N-NH4+ |
||||
Sem calagem |
Com calagem |
|||||
N-NH4+ |
N-NO3- |
N-NH4+ |
N-NO3- |
Sem calagem |
Com calagem |
|
|
mg/kg |
|
|
|||
LR1 |
63 |
89 |
26 |
126 |
1,4 |
4,8 |
LR2 |
26 |
57 |
36 |
94 |
2,2 |
2,6 |
LR3 |
40 |
53 |
66 |
81 |
1,2 |
1,2 |
LE |
57 |
51 |
26 |
98 |
0,9 |
3,8 |
LV |
30 |
18 |
28 |
30 |
0,6 |
1,1 |
C |
60 |
22 |
27 |
69 |
0,4 |
2,6 |
HGP |
20 |
57 |
23 |
78 |
2,8 |
3,4 |
(1) LR1: latossolo roxo; LR2: latossolo roxo; LE3: latossolo roxo; LE: latossolo vermelho-escuro; LV: latoasolo vermelho-amarelo; C: cambiasolo; HPG: glei pouco húmico. |
Segundo Barros
& Novais (1990) e Rice & Pancholy (1972), o decréscimo na nitrificação
em ecossistemas florestais é também explicado como forma de conservação de
energia com o equilíbrio ecológico, que favorece a utilização de nitrogênio na
forma amoniacal. O predomínio de maiores teores de nitrogênio na forma de
amônio, para o solo sob vegetação de eucalipto, está de acordo com resultados
obtidos por Vale (1982) e Locatelli (1984), os quais observaram que essa
espécie possui maior eficiência em absorver o N na forma amoniacal.
Nos solos LE, LV
e C, a relação nitrato/amônio é menor do que 1, na ausência da calagem,
indicando predominância de amônio. Isso pode afetar a absorção de N,
principalmente se for levado em conta que a maioria das espécies cultivadas se
mostram sensíveis ao suprimento predominante de amônio, dado ser esta espécie
iônica mais tóxica às plantas do que o nitrato (Guazelli, 1988). De modo geral,
as plantas preferem um suprimento balanceado de amônio e nitrato. Por outro
lado, a predominância do nitrogênio, na forma nítrica, refletida pela alta
relação nitrato/amônio observada em alguns solos, após a calagem, poderia ser
indesejável, visto que o nitrato é mais suscetível a perdas por denitrificação
e lixiviação, se comparado com o amônio.
O solo LV, mesmo
com a elevação do pH, apresentou baixa capacidade de nitrificação do amônio
proveniente da mineralização. Assim, de modo geral, os teores de nitrato
formado se mostraram bastante dependentes das condições de acidez do solo,
conforme verificado por Sahrawat (1982) e Dancer et al, (1978).
Outro fato a
considerar é que as sucessivas lavagens nos solos estudados podem ter
acarretado uma redução no tempo em que o amônio do solo esteve sujeito à ação
dos microrganismos nitrificadores, o que pode ter condicionado níveis
subestimados de nitrato formado.
Com base neste
estudo, torna-se importante ressaltar que o aumento nos rendimentos da maioria
das culturas com a prática da calagem pode não se dever exclusivamente aos
menores teores de alumínio e/ou maiores teores de cálcio, além de outros efeitos
benéficos normalmente citados, mas também aos maiores teores de N mineral
disponível para as plantas, oriundo do processo da mineralização, e suprido de
forma mais balanceada nas formas de amônio e nitrato.
CONCLUSÕES
1. A
mineralização do nitrogênio foi influenciada pela calagem, que promoveu maior
disponibilidade de N mineral no solo.
2. A maior
intensidade do processo de nitrificação se deu com a correção da acidez do
solo, refletida pela maior relação nitrato/amônio obtida.
(1)- Trabalho
financiado pelo CNPq. Recebido para publicação em novembro de 1993 e aprovado
em julho de 1994.
(2)- Aluno do
CPGSNP-ESAL, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 lavras (MG).
(3)- Professor
titular do Departamento de Ciência do Solo da ESAL, Caixa Postal 37, CEP
37200-000 Lavras (MG).
(4)- Professor
Assistente do Departamento de Ciência do Solo da ESAL, Caixa Postal 37, CEP
37200-000 Lavras (MG).
(5)- Bolsista do
CNPq.
Publicado
originalmente Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, 18:471-476, 1994
LITERATURA CITADA
ADAMS, S.M.; C00PER, J.E.; DICKSON, D.A.; DICRSON,
E.L. & SEABY, D.A. - Some effects of lime and fertiliser on a Sitka spruce
plantation. Forestry,
Oxford, 5:57-65, 1978.
BARROS, N.F.
& NOVAIS, R.F. - Relação solo-eucalipto. Viçosa, Folha de Viçosa, 1990.
330p.
BLACK, C.A. - Soil-plant relationships. New York, John
Wiley, 1968. 792p.
R.ANDÃO, R.P. -
Relação do nitrogênio disponível no solo com o crescimento e absorção do
nitrogênio pelo algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) Lavras, ESAL, 1990.
89p. (Tese de Mestrado)
BREMNER, J.M.
& MULVANEY, R.L. - Nitrogen total. In:
PAGE, A. L. - Methods of soil analysis: chemical and microbiological
properties. 2.ed. Madison, American Society of Agronomy, 1982. v.2, p.595-622.
CABANEIRO, A.; TRASAR, C.; VILLAR, M.C.; CARBALLAS,
M.; NODAR, R.; ACEA, M.J. & GIL, F. - Influence of liming on the
mineralization of C, N and P in an andic Haplumbrept. In: INTERNATIONAL
OONGRESS OF SOIL SCIENCE, 14., Kioto, 1990. Anais. Kioto, International Society
of Soil Science, 1990. p.210-215.
CAMARGO, O.A.;
MONIZ, A C.; JORGE, L.A. & VALADARES, J.M.A.S. - Métodos de análise
química, mineralógica e física de solos do Instituto Agronômico de Campinas. Campinas, Instituto Agronômico, 1986. 94p.
CORNFIELD, A.H. - The mineralization ot the nitrogen
of soils during incubation: influence of pH, total nitrogen and organic carbon
contents. J. Sci. Food Agric., London, 3:343- 349,1952.
DANCER, W.S.; PETERSON. L.A. & CHESTERS, G. -
Ammonification and nitrification of N as influenced by soil pH and previous N
treatments. Soil
Sci. Soc. Am, Proc., Madison, 37:67-69, 1973.
EMPRESA
BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). - Serviço Nacional de
Levantamento e Conservação do Solo, Manual de métodos de análises do solo. Rio
doJaneiro, 1979. 247p.
GUAZELLI,
E.M.F.M. - Efeito do nitrato e amônio no crescimento, assimilação e eficiência
de utilização do nitrogênio por cultivares de feijoeiro (Phuseolus vulgaris L.)
na fase inicial de crescimento. Lavras, ESAL, 1988. 112 p.
(Tese de Mestrado).
HAYNES, RJ. - The decomposition process:
mineralization, immobilization, humus formation, and degradation. In: HAYNES,
RJ., ed. Mineral nitrogen in the plant-soil system. Orlando, Academic Press,
1986. c.2, p. 52-126.
JANSSON, S.L. & PERSSON. J. - Mineralization and
immobilization of soil nitrogen. In: STEVENSON, F.J., ed. Nitrogen in
agricaltural soils. Madison, ASA/CSSA/SSSA, 1982. c.6, p.229-252.
KEENEY, D,R. & NELSON, D.W. Nitrogen inorganic
forms. In: PACE, A.L. Methods of soil analysis; chemical and microbiological
properties. 2.ed. Madison, American Society of Agronomy/Soil Science Society of
America, 1982. c.33, p.643-698.
LOCATELLI, M. -
Efeito de formas, fontes e doses de nitrogênio sobre o crescimento e composição
mineral de mudas de Eucalyptus grandis W. Hill (ex Maiden). Viçosa, UFV. 1984. 64p. (Tese de Mestrado)
MARSCHNER, B. & WILCZYNSKI, A.W. - The effect of
liming on quantity and chemical composition of soil organic matter in pine
forest in Berlin, Germany. Pl. Soil, The Hague, l37(2):229-236, 1991.
NYBORG, M. & HOYT, P.B. - Effects of soil acidity
and liming on mineralization of soil nitrogen. Can. J. Soil Sci., Ottawa, 58(3):331-338,
1978.
NYBORG, M.; HOYT, P.B. & PENNY, D.O. -
Ammonification and nitrification of N in soils at 26 fleld sites one year after
liming. Commun.
Soil Bol. Plant Anal., Monticello, 19(7-12): 1371-1319, 1988.
POTTKER, D. &
TEDESCO, M. J. - Efeito do tipo e tempo de incubação sobre a mineralização da
matéria orgânica e nitrogênio total em solos do Rio Grande do Sul. R. bras. Ci.
Solo, Campinas, 3(l):20-24, 1979.
RAIJ, B. van. -
Fertilidade do solo e adubação. Pirscicaba, Ceres/Potafos, 1991. 343 p.
RAIJ, B.van &
QUAGGIO, J.A. - Métodos de análise de solo para fins de fertilidade. Campinas. Instituto Agronômico, 1983. 31p. (Boletim Técnico, 81)
RICE, E.L. & PANCHOLY, S.K.- Inhibition of
nitrification by climax ecosystems- Am. J. Bot., Columbus, 59:1033-1040, 1972.
SAHRAWAT, K.L. - Nitrification in some tropical soil. Pl.
Soil, The Hague, 65:281-286, 1982.
STANFORD, G. & SMITH, S.J. - Nitrogen
mineralization potentials of soils. Proc. Soil Bol. Soc. Am., Madison, 36:465-472,
1972.
VALE, F.R. -
Efeito do alumínio sobre a cinética de absorção de nitrato, amônio e fosfato em
milho (Zea mays L.) e em clone de eucalipto (Eucalyptus alba) :
Viçosa, Universidade Federal de Viçosa, 1982, 71p. (Tese
de Mestrado)
YADVINDER-SINGH & BEAUCHAMP, E.G. - Nitrogen mineralization
and nitrifier activity in limed and urea-treated soils. Commun. Soil Sci. Plant
Anal., Monticello, l7(12):l369-1381, 1986.