DOSES DE CALCÁRIO, GESSO, MISTURA CALCÁRIO/GESSO, INTERAÇÃO CALCÁRIO X FÓSFORO E CALCÁRIO X POTÁSSIO EM CANA-DE-AÇÚCAR

D. F. AZEREDO; J. BOLSANELLO; M. 5. MANHÃES; H. WEBER

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

RESUMO INTERAÇÃO

Com o objetivo de avaliar os efeitos de doses de calcário, gesso e mistura calcário + gesso (lnercal) e das interações calcário x fósforo e calcário x potássio sobre as características químicas do solo e na produção de cana, foram realizados treze experimentos (total de vinte e nove cortes). Os tratamentos empregados foram os seguintes: Calcário; 0, 1, 2, 3, 4, 3, 6, 8, 10 e 15 t/ha; lnercal: 0, 2, 4, 5 e 10 t/ha; Gesso: 1,5 e 3,0 t/ha; Fósforo; 0, 50, 100, 130 e 200 Kg de P2O5/ha e Potássio: 0, 70, 140, 210 e 280 Kg de K2O/ha, com as doses variando conforme o experimento.

O emprego de calcário e inercal proporcionou elevação dos índices de pH, cálcio (Ca), magnésio (Mg) e de saturação de bases (V%) e redução dos teores de alumínio (AI), hidrogênio (H+) e saturação por alumínio (AI %); as doses de gesso utilizadas não proporcionaram variações expressivas nas características do solo; não houve benefício do uso de calcário, inercal e gesso na produção de cana,

 INTRODUÇÃO

A calagem neutraliza os excessos de alumínio e de manganês e fornece cálcio e magnésio. Além disso, aumenta a disponibilidade de nitrogênio, enxofre e boro que resultam da mineralização da matéria orgânica. O excesso de cobre também é controlado (MALAVOLTA et al., 1993). Com tais benefícios, a calagem muitas vezes é considerada como solução para os problemas de fertilidade dos solos que interferem na produtividade das culturas.

Na cultura da cana-de-açúcar, o uso de calcário tem merecido atenção especial, principalmente em face das contradições observadas nas produções de cana e de açúcar decorrentes do emprego do corretivo, Tal situação pode estar associada ao fato de a cana-de-açúcar ser uma cultura tolerante à acidez e aos teores elevados de alumínio trocável do solo, conforme atestam os trabalhos de AYRES et al. (1965), MARINHO et al. (1980), AZEREDO & SARRUGE (1984), HETHERINGTON et al. (1986).

ORLANDO FILHO, et al. (1990), trabalhando com fontes de calcário aplicadas em área total e sulco de plantio, em Areia Quartzosa da Usina São Manoel- SP, concluíram que houve reação à calagem, que o calcário aplicado em cana-planta apresentou efeito residual sobre a soca, que as fontes de calcário mostraram efeitos diferenciados. Efeitos benéficos da calagem sobre os rendimentos agrícolas e/ou industriais da cana-de-açúcar foram verificados por WANG et al. (1960), SANTOS et al. (1980) e MARINHO et al. (1980).

No estado do Rio de Janeiro, AZEREDO et al. (1981) não encontraram aumento de produtividade em cana-planta e nem variação dos teores de pol% cana devidos à calagem, concluindo que em solos com 0,8 e.mg de Ca/100ml de solo e teores de Ca + Mg no mínimo de 1,4 e.mg/100 ml de solo, a cultura da cana-de-açúcar não responde à aplicação de calcário.

Resultados obtidos por CORDEIRO (1978), DAVIDSON (1965) e KAMPRATH (1967) mostram efeitos prejudiciais da calagem nas produções agrícolas e/ou industriais.

Segundo QUAGGIO (1986), a resposta da cultura à calagem depende de fatores ligados à planta, ao solo e ao corretivo empregado, obtendo-se a máxima eficiência com a calagem quando os referidos fatores são corretamente considerados. O clima também precisa ser considerado, pois em determinadas situações, baixas produtividades são observadas, principalmente por déficits hídricos, o que compromete a avaliação dos efeitos da calagem.

Além do uso exclusivo de calcário, outros corretivos de solo têm sido estudados na cultura da cana-de-açúcar. O emprego de gesso e de mistura calcário/gesso visa principalmente elevar os teores de cálcio e neutralizar o alumínio cio camadas reais profundas do solo, o que nem sempre é conseguido. VITTI et al. (1993) não observaram efeitos do gesso na mobilização de bases ao longo do perfil do solo. Já para BENEDINI (1990), possivelmente, somente solos extremamente pobres em profundidade, com teores de cálcio muito baixos em subsuperfície, menores que 0,2-0,4 meq/100 cm3, podem apresentar boas chances de resposta à aplicação de gesso como fornecedor de bases em aplicação de gesso como fornecedor de bases em profundidade, o que limita o número de solos aptos a receberem doses de gesso superiores às requisitadas para o fornecimento adequado de enxofre às plantas (doses baixas).

A mistura calcário/gesso pode ser uma prática promissora, com o gesso em doses não elevadas, em soqueiras antigas instaladas em solos arenosos ou de baixa CTC. A adição do gesso com o calcário serviria para acelerar a distribuição do cálcio no perfil do solo, haja vista as maiores dificuldades de incorporação do calcário nessas condições (BENEDINE, 1990).

MORELLI et al. (1987), estudando o efeito do gesso e do calcário nas propriedades químicas de solos arenosos álicos e na produção de cana-de-açúcar, constataram que a ação do calcário na correção do pH e o aumento da saturação das bases estão restritos à camada superficial do solo, que o gesso proporcionou um decréscimo na saturação de alumínio em profundidade, que o uso de calcário e gesso associados aumentou a saturação de bases em superfície e diminuiu a saturação de alumínio em profundidade, e que a dose de calcário utilizada (2 t/ha) não interferiu na produção da cana-planta e soca, sendo, no entanto, aumentada com ouso do gesso e da mistura do gesso com calcário.

Quanto à interação entre calcário x fósforo, SILVEIRA et al. (1980) obtiveram resultado significativo, distinguindo inclusive o calcário dolomítico do calcítico nesse aspecto. ZAMBELLO JUNIOR et al. (1983) também observaram interação positiva entre calcário e fósforo, sendo a produção de cana-planta e das três socas subseqüentes aumentada pelas aplicações dos insumos.

De acordo com SILVEIRA et al. (1980), o uso de calcário dolomítico foi melhor do que o calcítico, quando em presença de doses elevadas de P2O5 (400 Kg/ha) e K2O (480 Kg/ha), enquanto na presença de doses ao redor de 100 Kg/ha de P2O5 e K2O as fontes de calcário comportaram-se de forma semelhante sobre a produção de cana-planta.

No presente trabalho, procurou-se verificar os efeitos do uso do calcário, isoladamente ou em interação com o fósforo e com o potássio, do gesso e da mistura calcário/gesso, sobre algumas propriedades químicas de diferentes solos e a produção de cana-de-açúcar em diversos anos de cultivo.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram realizados treze experimentos em nove locais, sendo quatro constituídos por doses de calcário; fazendas Alegria e ltereré - Usina Santa Cruz-RJ, Volta Grande - Usina Ana Florença-MG e Buritizinho -Destilaria Pompéu-MG; dois por doses de calcário e inercal (mistura 70% de calcário + 30% de gesso), fazendas Córrego das Pedras - Destilaria LASA-ES e Boa Vista - Usina Barcelos-RJ; um por doses de calcário, inercal e gesso, fazenda São Luiz - Usina Cupim-RJ, quatro por doses de calcário x fósforo, fazendas Córrego das Pedras - Destilaria LASA-ES; Boa Vista - Usina Barcelos-RJ, Floresta - Usina Quissamã-RJ e São Miguel da Mata - fornecedor da Usina Quissamã-RJ, e dois por doses de calcário x potássio, fazendas Córrego das Pedras - Destilaria LASA-ES e Boa Vista - Usina Barcelos-RJ.

As características químicas dos solos dos experimentos são mostradas na tabela 1.

TABELA 1- CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DOS SOLOS DAS ÁREAS DOS EXPERIMENTOS, ANTES DA APLICAÇÂO DOS     TRATAMENTOS.

Local *

Solo

Prof.

cm

pH

P

K

Ca

Mg

Al

H+Al

CTC

MO

Al

V

ppm

emg/100cc

%

1

 

PA1

 

0-20

5,1

11

48

0,7

0,2

0,3

3,4

4,7

1,3

23

22

20-40

4,9

9

54

0,6

0,1

0,5

3,7

5,0

1,3

38

17

2

 

PA3

 

0-20

4,5

11

50

0,6

0,3

0,6

2,5

4,1

2,0

37

25

20-40

4,5

6

20

0,6

0,2

0,6

2,4

3,8

1,6

43

22

3

 

PA1

 

0-20

5,0

14

32

1,2

0,5

0,5

5,6

7,9

1,0

22

22

20-40

5,1

10

23

1,2

0,4

0,4

3,6

5,6

1,2

26

30

4

 

PA1

 

0-20

5,2

46

64

1,6

0,6

0,2

3,8

6,4

0,9

8

37

20-40

4,8

33

38

1,1

0,3

0,5

3,1

5,1

0,9

25

29

5

PA2

0-20

5,0

9

80

1,4

0,8

0,3

4,3

7,0

1,4

11

34

6

 

LVd

 

0-20

5,9

42

91

3,5

1,2

0,1

3,9

8,9

2,1

2

55

20-40

5,8

34

41

2,9

0,9

0,1

4,5

8,5

2,0

2

46

7

LEd1

0-20

5,0

7

88

0,5

0,4

1,1

6,3

8,5

2,8

50

13

8

 

Ce3

 

0-20

4,2

27

96

0,6

0,5

4,1

11,0

16,0

3,7

82

8

20-40

4,2

21

75

0,7

0,6

3,8

10,0

15,3

3,1

72

10

9

GH3

0-20

3,9

315

30

4,1

2,2

6,0

18,4

31,0

18,8

48

20

* 1- C. das Pedras-ES; 2- Boa Vista-RJ; 3- S. M. da Mata-RJ; 4- Floresta-RJ; 5- Itereré-RJ, 6- V. Grande-MG, 7- Buritizinho-MG, 8- Alegria-RJ, 9- São Luis-RJ

Foram utilizados os delineamentos estatísticos de blocos casualizados e de parcelas subdivididas, cujos tratamentos são mostrados nas tabelas de resultados. As parcelas foram constituídas por linhas de 10 m de comprimento, sendo que para a área útil de cada parcela foram consideradas as três linhas centrais.

As variedades empregadas, as datas de plantio e de colheitas foram:

Local

Variedade

Plantio

Colheita

Faz. Alegria

CB 45-3

21/01/81

06/82e09/83

Faz. V. Grande

CB 45-3

17/03/81

07/82 e 07/83

Faz. Itereré

CB 45-3

25/03/65

10/87 e 12/88

Faz. São Luiz

CB 45-3

02/06/88

09/89

Faz. S. M. da Mata

CB 45-3

28/03/86

06/87 e 10/88

Faz. Floresta

CB 45-3

07/04/86

08/87

Faz. Boa Vista

RB73-9359

25/03/87

08/88 e 08/89

Faz. C. Buritizinho

CB47-76

22/04/83

07/84 e 06/85

Faz, das Pedras

RB73-9735

09/04/87

07/88, 08/89, 09/90, 09/91 e 09/92

Em todas as áreas experimentais, foram empregadas adubações em conformidade com os resultados de análises de solo. O calcário, o inercal e o gesso foram aplicados em área total, com incorporação trinta dias antes do plantio, sendo que na fazenda Alegria, os tratamentos foram reaplicados após o corte da cana-planta. O calcário utilizado foi o magnesiano, à exceção da 2ª aplicação da fazenda Alegria em que se empregou o dolomítico.

Os efeitos dos tratamentos foram avaliados sobre as características do solo (pH, teores de P, K, Ca, Mg, Al, H + Al, saturação de alumínio (Al%) e saturação de bases (V%) e sobre a produção de colmos em t/ha.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas tabelas 2, 3, 4 e 5 são apresentados os resultados das análises químicas das áreas experimentais após a aplicação dos tratamentos.

TABELA 2 - CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DOS SOLOS DAS FAZENDAS CÓRREGO DAS PEDRAS (1) E BOA VISTA (2), 6 MESES APÓS A APLICAÇÃO DOS TRATAMENTOS.

Trat.

(t.ha-1)

Prof.

cm

pH

Ca

Mg

Al

H+Al

Al

V

1

2

1

2

1

2

1

2

1

2

1

2

1

2

 

emg/100ml

%

 

 

 

 

Calcário

0

 

0-20

5,2

4,7

0,9

0,7

0,2

0,3

0,3

0,5

3,3

2,8

21

33

25

26

20-40

5,1

4,4

0,7

0,6

0,2

0,8

0,4

0,5

3,6

2,3

31

26

20

20

2

 

0-20

5,8

6,0

1,7

1,0

0,5

0,8

0,1

0,0

3,0

1,6

4

0

43

55

20-40

5,5

4,8

1,3

0,9

0,4

0,3

0,2

0,5

3,1

2,3

11

29

35

31

4

 

0-20

5,9

6,5

1,9

2,4

0,5

0,8

0,0

0,0

2,4

1,1

0

0

51

75

20-40

5,7

5,0

1,7

1,2

0,5

0,4

0,0

0,3

2,6

2,1

0

16

47

41

6

 

0-20

6,1

6,5

2,0

2,3

0,5

0,8

0,0

0,0

2,4

1,1

0

0

52

75

20-40

5,9

5,0

2,0

1,1

0,6

0,3

0,0

0,3

2,4

2,5

0

18

53

35

8

 

0-20

6,0

7,0

1,8

3,0

0,5

0,8

0,0

0,0

2,4

0,7

0

0

50

84

20-40

5,8

5,5

1,7

1,5

0,6

0,5

0,0

0,2

2,7

2,0

0

9

47

48

Inercal

2

 

0-20

5,7

5,6

1,5

1,8

0,4

0,6

0,1

0,1

3,3

2,1

5

4

37

53

20-40

5,3

4,5

1,3

0,9

0,3

0,3

0,2

0,5

3,5

2,8

11

29

31

28

4

 

0-20

5,8

6,1

2,8

2,6

0,4

0,8

0,0

0,0

2,8

1,2

0

0

47

75

20-40

5,5

4,8

1,8

1,1

0,4

0,3

0,1

0,4

2,9

2,2

4

22

43

36

Pelos valores apresentados na tabela 1, verifica-se que, com base nos critérios de recomendação utilizados no Brasil, todas as áreas experimentais necessitavam da aplicação de calcário, visto que AZEREDO et al. (1988) preconizam calagem se os teores de Ca + Mg forem inferiores a 1,4 meq/100 ml de solo e se a saturação de Al for maior do que 50%, que ORLANDO FILHO e RODELLA (1987) indicam o uso de calcário em solos com saturação de Al maior do que 30% e Ca + Mg menor do que 1,4 meq/100 ml de solo, que BENEDINE (1989) considera como nível critico 3 meq. de Ca + Mg /100 ml de solo e que VAN RAIJ et al. (1985) estabeleceram o limite de 60% para a saturação por bases do solo como índice desejável para a cana-de-açúcar.

 TABELA 3 - CARACTERISTICAS QUÍMICAS DOS SOLOS DAS FAZENDAS FLORESTA (1) E SÃO MIGUEL DA MATA (2), DAS CAMADAS DE 0-20 E 20-40 CM, 6 MESES APÓS A APLICAÇÃO DOS TRATAMENTOS.

 

Calcário

(t.ha-1)

Prof.

cm

pH

Ca

Mg

Al

H+Al

Al

V

1

2

1

2

1

2

1

2

1

2

1

2

1

2

 

emg/100ml

%

0

0-20

4,9

5,1

0,9

1,1

0,3

0,4

0,6

0,4

4,6

3,9

33

21

34

34

20-40

4,5

5,1

1,1

1,2

0,3

0,4

0,5

0,4

4,2

3,6

26

20

31

36

2

0-20

5,7

5,9

1,9

1,9

0,7

0,7

0,0

0,2

3,6

3,1

0

7

48

48

20-40

5,2

5,3

1,5

1,4

0,5

0,5

0,3

0,2

3,6

3,5

13

10

41

42

4

0-20

6,3

6,2

2,8

2,3

1,0

0,7

0,0

0,0

2,3

3,0

0

0

62

50

20-40

5,7

5,5

2,1

1,7

0,7

0,5

0,1

0,1

3,1

3,0

3

4

48

44

   

TABELA 4 - CARACTERISTICAS QUIMICAS DA CAMADA DE 0-20 CM DOS SOLOS DAS FAZENDAS ALEGRIA AOS 16 MESES (1)E 18 MESES (2), ITERERE AOS 42 MESES E VOLTA GRANDE AOS 18 MESES, APÓS A APLICAÇÃO DOS TRATAMENTOS.

 

Calcário (t.ha-1)

pH

Ca

Mg

Al

H+Al

Al

V

1

2

1

2

1

2

1

2

1

2

1

2

1

2

 

emg/100ml

%

0 + 0

4,4

4,5

0,8

0,7

0,3

0,3

4,2

4,4

11,0

10,8

79

81

10

10

1 + 1

4,5

4,6

1,2

1,7

0,3

0,4

3,8

3,4

10,7

9,8

71

61

14

19

2 + 2

4,6

4,8

1,4

2,5

0,3

0,5

3,6

2,6

10,5

9,2

68

46

15

26

3 + 3

4,5

5,0

1,6

2,7

0,3

0,6

3,3

2,3

10,0

9,3

63

41

17

27

4 + 4

4,6

4,9

2,0

3,6

0,3

0,7

2,6

1,7

9,8

8,6

53

28

20

34

Fazenda Itereré

0

5,0

 

1,4

 

0,7

 

0,3

 

3,4

 

12

 

43

 

1

5,1

 

1,6

 

0,8

 

0,2

 

3,1

 

9

 

47

 

2

5,2

 

2,0

 

1,0

 

0,1

 

2,7

 

4

 

55

 

3

5,7

 

2,5

 

1,1

 

0,0

 

2,1

 

0

 

64

 

4

6,0

 

3,0

 

1,2

 

0,0

 

1,7

 

0

 

72

 

Fazenda Volta Grande

0

6,1

 

4,4

 

1,3

 

0,0

 

4,1

 

0

 

59

 

1

6,3

 

4,8

 

1,2

 

0,0

 

3,6

 

0

 

61

 

2

6,4

 

5,2

 

1,3

 

0,0

 

3,7

 

0

 

63

 

3

6,6

 

5,7

 

1,2

 

0,0

 

2,9

 

0

 

69

 

4

6,9

 

6,7

 

1,2

 

0,0

 

2,0

 

0

 

78

 

TABELA 5 - CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO DA FAZENDA SÃO LUIZ, DA CAMADA DE 0-20 CM, 4 MESES APÓS A APLICAÇÃO DOS TRATAMENTOS.

 

Tratamentos

(t.ha-1)

pH

Ca

Mg

Al

H+Al

Al

V

emg/100ml

%

Calcário

0

4,0

5,7

2,3

4,1

17,3

34

27

5

4,3

8,4

3,0

2,9

15,8

20

38

10

4,6

11,5

3,9

1,4

13,6

8

51

15

4,7

11,4

3,6

1,7

14,9

10

47

Inercal

5

4,1

7,1

2,5

3,7

17,0

28

28

10

4,4

12,9

3,5

3,0

14,7

15

48

Gesso

1,5

3,8

4,8

1,9

5,5

19,7

45

21

3,0

3,9

7,3

2,1

4,6

18,2

32

29

Os efeitos das doses de calcário nas características químicas dos solos aumentaram os valores de pH, Ca e V% e diminuíram os teores de Al, H+Al e Al% (tabelas 2, 3, 4 e 5). Os resultados obtidos são condizentes com os dados encontrados por MORELLI et al. (1967), SILVA et al. (1991), LORENZETTI et al. (1992).

Em Alegria e São Luiz (tabelas 4 e 5), em vista do poder tampão do solo, foram necessárias doses elevadas de calcário para provocar variações expressivas no pH, Al% e V%.

A influência do inercal (mistura de calcário:gesso) sobre as características químicas dos solos mostrou-se semelhante à observada para o calcário (tabelas 2 e 5).

O emprego do gesso na fazenda São Luiz (tabela 5) não interferiu nas características químicas do solo na camada superficial (0-20 cm).

Estes resultados evidenciam o efeito positivo da utilização do calcário sobre algumas características dos solos estudados, entretanto, quando se avalia o efeito benéfico da correção destas características sobre a produção de colmo da cana-de-açúcar, obtidas nos diferentes experimentos e tipos de solo, tabelas 6, 7, 8 e 9, observa-se que, nas mais distintas condições e em diferentes ciclos, planta e/ou socas, as concentrações de alumínio e/ou a saturação elevada de alumínio não afetaram a produção de colmos. A saturação de bases baixas também não se mostrou limitante ao desenvolvimento da cultura.

TABELA 6 - PRODUÇÃO DE CANA, EM T/HA, PARA DIFERENTES CORTES E RESUMO DAS ANÁLISES DE VARIÂNCIA

 

Tratamentos

t/ha

C. das Pedras

Boa Vista

Buritizinho

1ª F

2ª F

3ª F

4ª F

5ª F

1ª F

2ª F

1ª F

2ª F

Calcário

0

86

77

92

96

78

83

83

37

86

2

89

79

88

98

74

94

87

32

77

4

83

75

84

94

85

103

88

33

85

6

83

68

81

92

76

89

90

39

95

8

89

77

91

100

73

90

94

-

-

Inercal

2

88

74

86

101

82

95

91

-

-

4

87

75

87

95

77

103

89

-

-

CV%

8,51

8,50

7,80

11,79

14,51

13,51

9,69

8,30

11,92

F

0,54

1,18

1,29

0,31

0,33

1,29

0,59

6,31

2,59

TABELA 7 - PRODUÇÃO DE CANA-PLANTA, EM T/HA, E RESUMO DAS ANÁLISES DE VARIÂNCIA.

 

Tratamentos

t/ha

Fazenda São Luiz

 

 

1989

Calcário

0

53

5

60

10

63

15

67

Inercal

5

50

10

65

Gesso

1,5

48

3

59

CV%

18,23

F

2,17

 

TABELA 8- PRODUÇÃO DE CANA, EM T/HA, PARA DIFERENTES CORTES E RESUMO DAS ANALISES DE VARIÂNCIA

Tratamentos

Qde.

C. das Pedras

Boa Vista

S.M. Mata

Floresta

1ª F

2ª F

3ª F

4ª F

5ª F

1ª F

2ª F

1ª F

2ª F

1ª F

Calcário

t/ha-1

0

92

72

84

94

70

92

81

79

77

58

2

89

73

86

94

72

89

82

83

83

55

4

90

71

83

95

68

90

87

81

83

58

6

94

74

84

95

69

94

89

-

-

-

P2O5

kg/ha

0

75

69

76

82

63

84

76

78

77

56

50

82

71

83

93

67

93

83

81

79

59

100

80

72

86

92

67

92

89

84

83

59

150

81

75

87

102

73

92

87

83

83

54

200

84

73

86

97

73

95

87

-

-

-

50 *

83

73

86

100

76

90

86

80

89

56

C.V.(Cálcio)

7,2

11,4

6,8

7,6

9,3

12,8

9,9

11,6

16,6

17,0

C.V.(Fósf.)

9,8

8,1

11,9

11,5

12,0

7,4

7,4

9,7

9,3

12,0

F (Cálcio)

0,5

0,4

0,4

0,0

1,4

0,6

3,5

0,8

1,4

0,9

F (Fósforo)

1,9

1,2

2,7

5,2

3,7

3,9

6,6

1,2

1,9

1,8

F (Int. CaXP)

0,9

0,6

0,4

1,8

2,0

3,8

2,3

1,2

0,8

1,1

D.m.s. (P)

-

-

-

13,3

11,8

8,6

8,9

-

-

-

Os teores de Ca e Mg no solo mostraram-se suficientes para o atendimento das necessidades da cultura, estando eles, de maneira geral, próximos ou superiores aos teores críticos preconizados por AZEREDO et al. (1988) e ORLANDO e RODELLA (1987).

Desta forma não se constataram benefícios da aplicação do calcário, inercal e gesso sobre a produção de cana, estando estes resultados em concordância com os obtidos por AZEREDO et al. (1981) e MORELLI et al. (1987).

TABELA 9 - PRODUÇÃO DE CANA, EM T/HA, PARA DIFERENTES CORTES E RESUMO DAS ANÁLISES DE VARIÂNCIA

 

Tratamentos

Qde.

Faz.Itereré

Faz.Alegria*

Faz V.Grande

2ª F

3ª F

1ª F

2ª F

1ª F

2ª F

Calcário

t/ha-1

0

44

85

74

106

59

82

1

48

83

79

114

62

78

2

48

85

78

108

65

86

3

45

90

75

110

62

87

4

46

82

78

114

66

86

C.V. %

7,47

8,50

4,24

6,41

8,78

8,87

F

1,90

1,05

2,36

1,03

1,26

1,52

* Após o 1º corte os tratamentos foram reaplicados

A não-resposta na produção da cana-de-açúcar à aplicação dos corretivos, nos solos estudados, ratifica os trabalhos de AZEREDO e SARRUGE (1984), MARINHO et al. (1980), AYRES et al. (1965) e HETHERINGTOR et al. (1986), quanto à tolerância da cultura ao alumínio e evidencia sua baixa exigência ao Ca + Mg.

Os resultados obtidos sugerem que a recomendação de calagem para a cultura da cana-de-açúcar, na região, deve priorizar a conservação da fertilidade dos solos, visando à manutenção de seus potenciais de produção a despeito da expectativa de se aumentar a produtividade.

Na tabela 8, são apresentados os resultados de produção de cana de três experimentos de calcário x fósforo e na tabela 10 os resultados de dois experimentos de calcário x potássio.

TABELA 10 - PRODUÇÃO DE CANA, EM t/ha, PARA DIFERENTES CORTES, E RESUMO DAS ANÁLISES DE VARIÂNCIA.

 

Tratamentos

Qde.

Faz. Boa Vista

Fazenda Córrego das Pedras

1 a.F

1 a.F

2 a.F

Calcário

t/ha-1

0

92

93

90

2

87

98

96

4

83

96

92

6

89

91

83

Potássio

kg/ha

0

82

93

91

70

83

91

87

140

86

96

88

210

96

95

89

280

91

97

94

C.V.(Cálcio)

8,70

13,10

7,06

C.V.(Potássio)

13,99

9,59

8,14

F (Cálcio)

1,41

0,65

10,12**

F (Potássio)

2,67*

0,80

1,46

F (Int. CaXK)

0,86

0,73

0,91

D.m.s. (K)

14,48

-

10,44

Houve efeito da adubação fosfatada nos experimentos da Faz. Córrego da Pedras, na quarta e quinta folhas, e na primeira e segunda folhas na Faz. Boa Vista, na qual também se verificou o efeito da interação calcário x fósforo em cana-planta.

O efeito do uso de potássio foi observado somente para a dose de 210 kg de K2O/ha em cana-planta da fazenda Boa Vista.

CONCLUSÕES

Publicado originalmente nos anais do 6º Congresso Nacional da Sociedade dos Técnicos Açucareiros e Alcooleiros do Brasil - STAB. Maceió/AI., novembro/96, Anais,

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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